16 de dez. de 2010

O sofrimento...

"Era uma criatura bondosa e jovem, que se criou no estreito círculo de suas ocupações domésticas e do trabalho disciplinado. (...) até o dia em que encontrou alguém para o qual se viu irresistivelmente atraída por um sentimento desconhecido. Nele concentrou todas as suas esperanças, esquecendo o mundo ao seu redor, nada ouvindo, nada vendo e nada sentindo senão esse homem, só a ele desejando. Não corrompida pelas frivolidades de uma vaidade volúvel, seu desejo conhece apenas um objetivo; ela quer pertencer-lhe, encontrar numa união eterna toda a felicidade que lhe falta, e fruir todas as alegrias pelas quais sempre ansiou. Promessas repetidas que lhe asseguram a realização de seus sonhos, carícias ousadas que atiçam seus desejos, tudo isso envolveu completamente a sua alma; ela flutua num estado de aturdimento, numa antecipação de todas as alegrias futuras, seus nervos estão tensos ao máximo, finalmente ela estende os braços ao encontro do seu ideal - e o homem amado a abandona. Estarrecida, fora de si, ela se encontra diante de um abismo. Ao seu redor, a escuridão, nenhuma esperança, nenhum consolo, nenhum futuro, porque aquele a quem tinha devotado a vida a deixou. Ela não consegue ver o mundo que está a sua volta, tampouco aqueles que poderiam compensar a perda; sente-se sozinha, abandonada e então, cegamente, desesperada e com o coração angustiado, ela se precipita nas águas, a fim de nelas encontrar a morte e afogar todos os seus tormentos. "
 
(Os Sofrimentos do Jovem Werther - Goethe)